Rainha do Lar

Não há nenhum sentimento equivalente ao de se estar em casa. É uma mistura de conforto e segurança única. Em qualquer outro lugar, por mais legal e divertido que possa estar, sempre fica aquela inquietude latente que muitas vezes nem é percebida. Mas é colocar o pé em casa e aquela aura de proteção nos envolve e tudo parece um pouco mais simples e suportável.

No ano passado, eu tive 23 casas. Na minha viagem pelo mundo, eu ficava cada semana em uma casa diferente, com uma família nova. Quando meu curso acabou, eu continuei mudando, sendo hospedada por amigos queridos. Ao voltar para o Brasil, a casa dos meus pais era meu porto seguro. E nas minhas constantes idas para São Paulo, era na casa de grandes amigas que eu tinha o meu canto.

Mas quem tem tantas casas, na verdade não tem uma: sempre sentia falta daquele lugar para o qual eu não precisava fazer uma mala pra ir, em que eu poderia concentrar minhas coisas, me largar, mudar a decoração se eu quisesse, me fechar para o mundo e sair a hora que eu não me agüentasse mais. Para uma canceriana, casa é algo muito importante – é um lugar de equilíbrio para um ser instável.

Recentemente eu me mudei. De novo. E vou me mudar. De novo, sem mal me acostumar com minha nova e divertida morada. Que era minha casa faz tempo, porém ao mesmo tempo ainda não é muito minha. É um processo complicado, uma casa virar um lar. Leva tempo, precisa-se de espaço, rotina, costume, manias.

Agora vou encontrar um outro lugar, acostumar-me a ele, colocar minhas coisas lá em um lugar em que elas fiquem. É que dessa vez, elas vão ficar mais. Devo ir morar com pessoas queridas, mas teremos espaço o suficiente para continuarmos sendo queridas umas pelas outras. Vou ter o meu quarto...

Espero isso pra me tirar do meu estado constante de alerta, de procura pelo meu canto. Quero um lugar para chamar de lar, pra moldar do meu jeito, para me sentir segura e poder descansar sem pensar em outro lugar.

Fechado por barreiras reais ou imaginárias, a minha Pasárgada onde escolho o rei.

Porque rainha serei eu.