É pra ler ou pra comer?
De uns tempos para cá, quando todas as decisões tinham que ser tomadas, independentemente se eu sabia a resposta certa ou não, comecei a pensar em diversas possibilidades para qualquer pergunta com a qual eu tinha de lidar. Numa dessas perguntas tidas como fundamentais, como essenciais para o meu caminhar saudável (e, não, não está sendo saudável) deparei-me com algo que estava bem escondido em mim: cozinhar.
Como era algo novíssimo para mim, e eu mal sabia como lidar com uma nova paixão, apenas dividi esse sentimento com uma amiga. E ela é genial. E me apoiou em questões que eu mal havia pensado antes. E dentre tantas crises de começar de novo, de continuar, de me deixa ser feliz, ela foi lá e deu o primeiro passo por mim. Mas são muitas dúvidas e eu muitas vezes só piso em terreno garantido.
Mesmo nada tido acontecido, nenhuma mudança brusca na minha vida, essa questão da culinária, da cozinha, de montar pratos, de experimentar tudo, por algum motivo, permaneceu. Ao me sentir mais à vontade com essa descoberta,passei a dividi-la com mais pessoas. Grande erro, eu diria, grande erro.
Se uma pessoa mal sabe o que fazer com algo que acabou de nascer por que diabos dividi-la com mais gente ainda? Mais gente que vai lidar com isso de uma forma bem diferente da sua amiga genial.
Obviamente queremos apoio, queremos que digam para seguirmos para frente, vá lá e faça, esse tipo de coisa que precisamos quando estamos naquela corda bem bamba sem saber se vai ou se volta.
Foi então que recebi a primeira review “Claro que você gosta de cozinhar. Você é mulher e isso está no sangue. Mulheres gostam disso porque é o que elas devem fazer.” Ainda bem que não tenho todas as facas e utensílios assassinos potenciais. Depois disso deixei a nova paixão para mim. Só minha e me deixe com ela.
E comprei meu primeiro livro de culinária.
Tive o mesmo frisson dos primeiros livros de Ciências Sociais que eu comprei, que eu li, que eu reli, que eu analisei. E a paixão pelas Sociais aconteceu depois de uns três anos de curso.
E estou lendo e descobrindo tudo o que eu não sabia, o que é a parte mais deliciosa de aprender.
Evidentemente a prática está bem para trás, sem saber com o que lidar, com os materiais, com as combinações, mas ainda resistem todas as primeiras (e maravilhosas) situações de tudo o que acontece num relacionamento novo.
Ainda não sei se a paixão se concretizará em lindos pratos ou se os ingredientes irão esvaecer. Se os frutos disso forem apenas alguns prazeres na mesa, está de bom tamanho; mas se eu sucumbir à paixão, o primeiro banquete vai ser para minha amiga genial. E depois ela conta por aqui se o primeiro passo foi na medida certa.
Em tempo: a amiga genial não o é porque fez um comentário favorável e sim porque não questionou, não opinou e sim, somente apoiou qualquer coisa que eu fosse fazer.
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