4.1.05

Quando o ano novo começa

Já fui algumas vezes passar a virada de ano na praia e todas tiveram um elemento comum: ninguém sabia muito bem que horas começar a comemorar. Nunca fui em grandes festas como a de Copacabana, eram praias menores. Mas sempre me pareceu que faltava um “organizador da bagunça”, algo ou alguém com a nobre função de dizer quando o ano novo de fato começa. Qualquer relógio bem posicionado resolveria - houve dois anos que, para mim, começaram uns 3 minutos antes do previsto.

Este reveillon não seria diferente. Estávamos na praia, onde os barulhos dos fogos começaram por volta das 7 e meia da noite. Nunca entendi porque as pessoas ficam disparando fogos antes, isso só me confunde. Talvez o efeito mágico do álcool de fazer com que 5 horas passem em 5 minutos antecipe algumas comemorações. Na medida em que a meia noite vai ficando próxima, a quantidade de fogos de artifício sem noção aumenta.

Pois bem: depois da ceia, todas as lentilhas devidamente comidas, fomos armados de duas garrafas de espumante para a praia, prontas para serem abertas. Nada nos deteria do objetivo maior: o ano novo. Usávamos a indumentária apropriada para a sobrevivência naquele ambiente – roupas brancas e calcinhas novas. Levávamos também uvas, para o caso de necessitarmos de munição extra. E não tínhamos medo de usá-las.

Cavamos a nossa trincheira no meio da praia lotada e por lá ficamos a esperar o momento do ataque. À nossa volta, milhares de pessoas também armadas até os dentes de simpatias e oferendas. Todas querendo garantir um ano com mais sorte do que o anterior. Só aguardavam o sinal para então, começarem os rituais em busca da felicidade.

Nesse intere, os fogos e rojões continuavam soando a esmo. Pessoas celebravam as 11 horas e 37 minutos do último dia do ano e cachorros latiam. Mas a massa sabia que esses eram apenas sinais de aquecimento.Ainda não era a hora certa.

O tempo continuou a passar. De repente, faltavam 5 minutos, depois 4... Os fogos aumentavam a sua intensidade, e com isso a dúvida: será que já era hora? Meu relógio ainda estava adiantado? Afinal, que horas são agora?

Olhei para a praia e vi um mar de pessoas ansiosas para comemorar. Elas queriam recomeçar, queriam fazer seus rituais porque essa era uma forma de renovar a nossa constante busca pela felicidade. Mas faltava o grito, faltava o sinal, faltava permissão do ano que ainda não chegava.

Sem relógio mas com uma breve noção das horas, não pensei duas vezes: chamei minha amiga e começamos a gritar: “DEZ... NOVE...”. A partir do “oito” já éramos acompanhadas pelos grupos vizinhos, e assim a coisa foi se alastrando até o “um” e o todos os fantásticos gritos que o seguem.

Foi então que entendi: quem faz o nosso Feliz Ano Novo somos nós mesmos. E ele começa na hora que quisermos.

FELIZ 2005 PRA TODO MUNDO QUE NOS ACOMPANHA!!!


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