14.11.04

Qual é a sua causa?

Conversando sobre a minha viagem e acertando os detalhes da minha demissão com o meu chefe, ele fala:

- A primeira coisa que eu pensei é quando me contaram é: como é bom ser jovem...

Essa frase me deixou pensativa. É impressionante como é atribuído ao jovem um mundo de possibilidades e uma liberdade sem limites. Angustiante – afinal, o tempo passa e a cada segundo você é menos jovem! Será que amanhã eu vou ter menos escolhas que hoje? Será que em alguns anos minha vida será uma prisão de classe média capitalista?

Senti a conhecida Síndrome de Peter Pan. Quem quer crescer? Sou parte de uma geração sem ideologias e paixões - e objetivos. Antigamente, os pensamentos eram mais grandiosos. Pessoas eram inconfidentes, republicanas, abolicionistas, pacifistas, integralistas, comunistas, feministas, hippies, yuppies. Hoje, eu pergunto aos meus amigos (e a mim mesma): qual é a sua ambição? Qual é a sua causa?

Eu sempre quis ser uns cinco anos mais velha do que sou. Porque estou cansada dos meus problemas, da repetição de um mundo vazio no meu vasto coração. Porque quero novos desafios, novos objetivos, quero já saber para onde vou. Agora, minha angústia é ainda maior: não sei se queria ser apenas uma menina que não cresce ou se queria, na verdade, ser 50 anos mais velha. E ter vivido em uma época mais ideológica, em que ainda se acreditava em alguma coisa. Quando ainda havia alguma discussão.

A maior herança que os tempos trouxeram para minha geração foi o ceticismo. Este levou a uma alienação que vem se tornado permanente, assustadora. Antes eu achava que éramos mais idiotas, mas na verdade nos vejo mais perdidos. Quando se questiona tudo, não há válvula de escape. Se estamos todos presos, por que aumentar a nossa angústia? Para que se ter uma causa se elas são todas inúteis? Num mundo que reelege o Bush, de que se tem esperança?

Nem nossos pais têm mais esperança. Eles se acomodaram e nos ensinaram que, se a gente parar de pensar, uma hora isso tudo passa. Essa história de escolha, mudança, crenças, é coisa de jovem. Eles já foram assim, não deu muito certo. No fundo, eles querem nos poupar da mágoa que sentiram quando suas ideologias e seus corações foram partidos pelo mundo real.

Isso tudo soa muito triste. Mas eu não tenho posso julgar quem se aliena. Estamos numa busca desesperada por conforto, cada um se vira como pode.

Talvez esse individualismo que consome a nós, jovens alienados, leve a um caminho bom. Talvez nos juntemos por nosso ceticismo e busquemos um mundo em que possamos acreditar, pelo menos um pouco. Quando se acha uma pequena coisa que valha a pena, fica mais fácil aturar o resto.

O otimismo já encontrei. Agora, procuro a minha causa. Você sabe qual é a sua?

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