1.10.04

A insustentável ignorância do Não

Quando eu era piveta e achava que entendia tudo do mundo e de como as coisas funcionavam, gostava de ficar me afirmando através dos meus exclusivos gostos musicais. Na realidade, eu só gostava de músicas que as outras pessoas não gostavam e assim sendo, nem faziam questão de conhecer. Mas eu era a mais antenada, descolada, dentro do mundo da música. Ao me vincular tão fortemente a uma imagem que eu mesma havida criado, deixei de apreciar qualquer outro tipo de música que não aquele que eu pregava. E também criticava tudo aquilo que não seguia minha religião musical. Quanta ignorância!

Agora guria crescida que sou e que sei que não preciso mais me afirmar através da música (ou qualquer outra coisa) notei como é fácil dizer não. É muito fácil afirmar que algo que você não conhece é um lixo, que você não gosta, que você não quer nem saber. É tão pateticamente fácil você dizer não a alguma coisa que não conhece que só o fato de dizer não acaba por traduzir a pessoa como paradigma da estupidez.

Essa ignorância do Não se aplica a tudo. Desde não querer experimentar uma comida nova, até discordar de alguma teoria somente porque lhe parece errada (no sentido de não possuir argumentação alguma); ou de olhar uma pessoa pela forma como ela está vestida e já estampar um NÂO, um “Odeio essa pessoa”. É tão ridiculamente fácil, é tão estupidamente simples que simplesmente não se aplica.

A dificuldade em elaborar uma opinião é grande, ainda mais embasada, livre de pré-conceitos; é necessário pesquisa, vontade de saber e aí que reside a graça toda de ter uma opinião. De saber o que achar e não achar por esporte, sucumbindo à facilidade do geral, do lato sensu. É tão simples dizer não. Não gostar, não explicar, simplesmente não. O maior problema daqueles que são fervorosos da ignorância do Não é o “Por quê?”. E assim, de repente, ouvimos outro não, mas bem engasgado. Nesse momento eu sorrio e digo até.

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