A menina que queria entender o mundo
Nina era uma menina curiosa. Desde pequena, sua maior fascinação eram as estrelas do céu. Toda noite, sentada na cama, começava a contá-las. Queria saber quantas havia, pois não. Mas, criança que era, acabava adormecendo por volta do 317. Ela não desistia – uma vez, ficou acordada até o 423! Sentiu-se mais perto da resposta.
Inevitavelmente, Nina foi crescendo e mudando. Um dia, simplesmente admitiu que o número de estrelas era algo próximo de 424, e parou de contá-las. Precisava ir dormir mais cedo, para não ficar com a cara cansada na aula. Do contrário, não iria chamar a atenção dos meninos, ora bolas.
Contudo, os interesses não se alteraram tanto. É que Nina começara a estudar astronomia. Ao invés de contar estrelas com seu dedo indicador, ela fazia cálculos e estimativas. Era fantástico: ela finalmente encontrou razões e respostas para todas as dúvidas que um dia surgiram na sua cabeça, quando dormia na cama com lençol de luas minguantes. Ela admirava a exatidão que podia existir no céu que tanto a atraía.
E não é que Nina, agora jovem, se apaixonou? Ela havia encontrado um rapaz que a encantava, e em quem podia pensar quando olhava para o céu estrelado. Finalmente, todas aquelas contas faziam sentido! Nina flutuava...O que seria necessário para que eles passeassem na lua?
Porém, num dia não tão belo, o tal mancebo deixou de ser tão encantador e magoou o coração da garota. Pobre Nina... Andava tão triste. Ela não entendia. Por que aquilo havia acontecido? O que havia de errado? Como ela podia corrigir aquilo? Qual era a fórmula que ela desconhecia?
Nossa heroína, um tanto confusa, saiu pelo mundo perguntando. Começou no elevador de seu prédio, ao ascensorista.
- Qual é a equação que resolve o mundo?
O coitado coçou a cabeça, e Nina resolveu não esperar pela resposta.
Ela foi perambulando o mundo, a procura de especialistas: físicos, matemáticos, diretores de negócios, médicos; enfim, conhecedores de toda espécie de assunto. Nina ouviu inúmeras teorias, mas nenhuma a convencera. Ela não queria uma discussão, ela queria uma equação. Uma resposta prática, rápida, com uma explicação lógica padronizada. Algo que pudesse aplicar em qualquer problema que surgisse. Uma solução.
Não havia uma equação! E agora, o que fazer? Nina seguiu, cabisbaixa, de volta à sua casa. Só queria saber do seu lençol de luas minguantes e da sua cama perto das estrelas. Lá chegando, encontrou uma flor com um cartão. Sorrindo, descobriu: a resposta não é padrão. Está em cada problema, em cada pessoa. O mundo não tem equação. Ele é feito de muitas variáveis, e o resultado está sempre dentro do problema. Será que existe questão maior do que nós mesmos? Achou ela que não.
Nina jogou fora a flor, amassou o cartão, e foi contar estrelas. Quem sabe lá, acharia um outro sonho.
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