3.9.04

Dos pequenos grandes medos

Quando eu era pequena lembro que um dos meus maiores medos era ficar perdida. Perdida em shopping, em feira, em qualquer lugar que eu não pudesse gritar meus pais. Um dia fiquei realmente perdida e como boa irmã mais velha, levei meu irmão junto comigo. Olhando hoje, a situação era ridícula, mas naquela época parecia um problema de ordem mundial: nos perdemos em Angatuba, interior de São Paulo, andando e conhecendo a cidade. Desde pequena meu senso de direção foi muito apurado então ficamos eu e meu irmão a rodar e rodar pelo quarteirão de cima da casa na qual estávamos. Uma hora andando e já achei que estava perdida. Como boa irmã mais velha que dá apoio, já gritei com meu irmão que não sabia onde estávamos. Ele, dois anos e meio mais novo que eu, foi até um posto policial e perguntou onde ficava a casa da dona fulana. Era na rua de baixo e fomos escoltados ate lá. Sim, fui motivo de piada durante muito tempo. Não é para menos, também.

Quando adolescente meu maior medo era perder os vínculos que já tinha criado. Ou seja, continuar com as minhas amigas. Foi quando perdi todas, supostamente meu porto seguro, que o medo passou. Foi quando comecei a ficar menos medrosa. O medo vinha do que eu estabelecia como prioridade, como medo maior. Foi exatamente o que me deixou mais independente.

Hoje, fico pensando sobre os meus medos que me acompanham. Eles não estão muito claros para mim, algo nebuloso, algo que eu sinto, mas não consigo descrever de forma alguma. Quando meu avô morreu, nesse ano mesmo, pensei que ia começar a ter medo de morrer ou de perder meus entes queridos. Mas não fiquei. Fiquei mais calma, não sei porque; talvez por ter realizado que as pessoas morrem mesmo, um dia ou outro.

Fiquei sabendo da fortuna que meus pais terão o dia em que se aposentarem, o que me fez refletir sobre como preciso arranjar logo um emprego para futuramente cuidar deles como cuidaram de mim. Mas isso também não me assustou pois sei que algo vou arranjar e de alguma forma as coisas se ajeitam.

Mas o que me pegou de jeito foi, mesmo depois de pensar nos possíveis medos, não saber quais são. E não estou afirmando que não tenho medo. Esse é o problema: sei que os tenho, mas não sei desenhá-los na minha cabeça e isso me amedronta. Quando estiver face a face com ele talvez não saberei como reagir. E acho que esse não saber me faz ainda mais dependente dele. Ainda creio, contudo, que os medos mais servem para que possamos derrubá-los do que cultivá-los, então, espero que venham logo, assim esses pequenos grandes medos logo se tornarão algo para rir depois. Como aquela menininha que se perdeu junto com o irmão em um quarteirão em Angatuba.

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