Sobre possibilidades
Não sei quem já fez isso, mas algumas vezes já parei para pensar nas mudanças
da minha vida caso alguns “sim” e alguns “não” tivessem trocado de lugar. Como seria se meu pai não tivesse sido transferido quando eu tinha sete anos para essa cidade? E se eu tivesse escolhido cursar o outro vestibular em que fui aprovada? Se eu tivesse feito intercâmbio?
Sim, os “e se?” em nossa vida podem levar a loucura. Que é, também, uma possibilidade.
Esses pensamentos não duram muito em mim. Independente de crenças religiosas, eu não acredito na total aleatoriedade da vida. Não acho que o acaso guie o nosso destino pelas janelas do mundo. Penso que há algo mais, ainda que invisível para os olhos ou para a mente – seria isso a fé?
Existem, porém, algumas possibilidades que me intrigam mais.
Havia uma pessoa. Meu primeiro amor de verdade. E um dia resolvemos não ficar mais juntos.
Na minha cabeça, a imagem que veio foi a de uma janela sendo subitamente fechada pelo vento, com força, com raiva. Pensei: “Essa possibilidade se fechou”.
E por mais que eu entendesse que as coisas deveriam ser deste modo, essa imagem me deixou em pânico. De repente, eu não podia mais! Não podia mais o que eu tanto quis.
Esses dias, lembrei desse rapaz. Estava contando a alguém a nossa história e, enquanto isso, achei na memória aquela mesma janela fechada. Eu já a tinha esquecido; inclusive, não considerava a hipótese de reabrí-la. Mas, quando eu lembrei de todo o carinho que eu tinha por essa possibilidade, do quanto eu já quis isso, fiquei comovida.
“Puxa, eu realmente quis passar por essa janela. Que pena que não deu certo”.
E por mais que eu esteja feliz com os meus caminhos, isso sempre vai me comover. Mesmo eu sabendo que esse não é o meu rumo.
Uma possibilidade que se fecha nos traz dois tipos de saudades: do que foi e do que poderia ter sido. Nossa imaginação visualiza um mundo cor-de-rosa, sem as angústias da realidade. O imaginário só carrega consigo o que temos de melhor.
Será? Será que seríamos mais felizes nesse mundo “rosinha”? Acho que não. A realidade nos agride às vezes, mas a autenticidade do nosso caminho é algo que ninguém pode tirar. Nós o criamos enquanto criamos a nós próprios.
O mundo gira...e de algum modo, nós sempre vamos para casa.
<< Home