21.7.04

Great Expectations

Estou ouvindo bastante, nesses últimos meses, como é bom se formar. As pessoas parecem livres de um peso do qual nem sabem ao certo porque escolheram ter. Estou preste a me formar, a “tirar esse peso”, a ser jogada no mundo dos desempregados. É uma escolha, sim. Posso ainda me demorar bastante na faculdade, fazer várias outras matérias, ir alongar o final. Às vezes penso que é exatamente isso que deveria fazer, outras, acho que já foi longe demais. 
  
Procurar emprego, ganhar salário, tudo isso me parece bom, mas tão distante. É algo que desejo que aconteça mas ao mesmo tempo, não me vejo em escritório algum, em frente a computador. Estou a terminar minha faculdade sem saber em que vou trabalhar. Em tempo, faço Ciências Sociais. Acho que pertenceria mais ao alongamento da graduação, à pós, ao doutorado, dar aulas, entrar futuramente em greve por falta de pagamento... 
            

Será que é isso mesmo? Acho ótimo ter utilidade, intelectual ainda mais. Um sentimento de pertencimento à algo é necessário, de ser útil, dentro disso, também. Mas diante do andamento do final do curso me vejo sem pertencer a lugar algum, seja dentro da faculdade, da qual estou me despedindo, seja do mundo dos desempregados, no qual estou entrando.  Estou em uma adolescência da maturidade.
  

Não sou a única a ter esse medo, isso eu sei. Mas são expectativas muito grandes, desejos de algo não concreto mas que quase se pode pegar com a mão. Vontade de seguir em frente mas a passos pequenininhos, como de criança aprendendo a andar. Com a diferença de que elas não têm medo de cair, pois mal sabem o que é cair e se machucar. Andar pra frente, com tantas expectativas assim, me parece um caminho tortuoso, embora necessário, a ser feito. E sempre tem aquele empurrão de outrem com a contundente ”Vai trabalhar, vagabundo”. Ao resolver essa questão, aí sim, um peso vai sair de meus ombros.

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