Eu sou free demais
Desde que o mundo é mundo – e eu sei lá o que ele era antes disso – as pessoas lutam por liberdade. William Wallace, Martin Lutero, Rei Henrique VIII, Dom Pedro I, Gandhi, feministas dos anos 60, palestinos, judeus, curdos, Che Guevara e até mesmo o Asterix e sua simpática aldeia de gauleses. Seja uma prisão física, política ou social, a onda de todos os verões sempre foi ser dono do próprio nariz.
Eu, em contrapartida, encontro-me numa situação diferente: eu tenho excesso de liberdade. O mundo é uma janela de possibilidades, e eu estou em pânico porque tenho que descobrir o que eu quero fazer de verdade com isso! São muitas marés, a vida pode me levar para tantos caminhos que eu ainda não sei para qual eu vou.
Não é tão simples quanto parece. Quem sabe realmente o que quer da vida? Nosso conjunto de valores vai mudando ao longo do tempo, e do mesmo modo vamos criando novos objetivos. E os objetivos antigos, como ficam? E os novos, será que são mesmo o que queremos?
Sim, eu sou free demais. Sufocante, angustiante. Mas também há um charme de desafio, que tem seu apelo. Já ouvi muitas pessoas me falando frases como “Nossa, se eu fosse como você, se eu não tivesse isso me prendendo, eu ia fazer tanta coisa...”. Um pouco é conversinha. Falta coragem, não liberdade. Mas um pouco são as escolhas. Afinal, escolher algo também significa abrir mão de outra coisa. E nós, eternos insatisfeitos, sempre queremos que as coisas sejam melhores. Isso não é ruim – faz parte da essência da evolução das pessoas. Assim como a de culpar os gnomos ou a massa polar que veio da Argentina que a vida é essa prisão. Ó céus, ó vida, ó azar.
Não, nada nos prende a não ser nós mesmos. Escolha a sua maré, pois ficar à deriva não é tão bom quanto parece. A não ser que você queira boiar pra sempre, esperando chegar na Ilha da Páscoa, sei lá. Até parece...
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