The times they are a-changing
No ano do meu vestibular, lembro do exato momento que percebi que eu e meus amigos éramos vestibulandos chatos. Eu prestava atenção nas nossas conversas ao longo do tempo: em março, falávamos das férias, do verão, da possível viagem de formatura, da festa de formatura, e do vestibular; em setembro, esperávamos ansiosamente a viagem para Porto Seguro e pensávamos que chato era que o dia da volta coincidiria com a prova da GV. Até que dezembro chegou, e no final do mês eu participei da conversa mais chata do antigo milênio: quatro pessoas de dezessete anos falando sobre vestibular por vinte minutos! Era o fundo do poço.
Contudo, isso aconteceu porque era um momento de transição e eles são assim mesmo: chatos. Você está vinculado temporariamente num lugar que não te interessa, não sabe direito para onde está indo, ou ainda não chegou lá direito: sobre o que você vai conversar? Não importa, porque tudo que disser será tão enfadonho que você nem vai querer falar muito.
Uma transição clássica tem duas etapas: primeiro você sabe que vai mudar, mas ainda não sabe pra onde. Essa é a pior parte. Veja o momento tedioso da sua vida: você está em um lugar no qual vai ficar pouco (logo, quem se importa?) e não tem como se preparar para a nova fase, porque ainda não sabe qual vai ser. Sua vida torna-se um longo, longo espaço de tempo a ser preenchido de forma criativa e de curto prazo. Ou seja: não há como fazer academia, trabalho voluntário, curso avançado de macramé, viagem de carro até a Chapada Diamantina, nada disso. A extensão da sua capacidade de comprometimento é uma viagem pro Guarujá no final de semana, ou a sessão de cinema das onze e meia.
Parece excitante, uma vida sem prisões? Tente ficar duas semanas sem saber em que cidade você tem que estar no dia seguinte, se vai ter algo para fazer no dia seguinte ou não, e venha conversar comigo quando já souber a programação do People & Arts de cabeça.
O tempo passa, o mundo evolui e você já sabe o seu novo destino. É o princípio da salvação. Sua gama de assuntos se torna muito mais variada e pitoresca, ainda mais se comparada com as suas conversinhas moles dos tempos incertos. A mudança nas suas atividades cotidianas cria historinhas divertidas para contar na mesa do bar e digressões filosóficas sobre o futuro da sociedade capitalista. É quase emocionante.
Mas calma! Seu tédio não está resolvido... ainda. Você fica mais animado, começa pequenos projetos de adaptação, porém ainda não tem muita coisa pra fazer. Na verdade, tem até menos: é só esperar. Claro que já há um controle melhor do seu tempo: pode-se viajar, dar uma praticada no ponto-cruz, assistir a maratona de Gilmore Girls sem culpa. Há aquele misto de expectativa, ansiedade, um pouco de medo. Agora a mudança está feita, é hora de ver o que acontece.
São momentos muito cansativos, de fato. Em seguida vem um processo de adaptação até a vida dar uma assentada temporária. Só que isso é muito breve. Mudanças são constantes e para melhor ou para pior, elas nos fazem evoluir. A idéia é essa, né? Já que crescer é inevitável, nada resta senão aproveitar da melhor maneira e ser feliz como der.
Afinal, já dizia a minha sábia avó, "tudo é passageiro menos o cobrador e o motorista."