28.7.04

Reformando

Chega uma hora na vida em que a gente precisa mudar. Seja o corte de cabelo, a cor, os amigos, os cds...no meu caso foi meu quarto. Aquela euforia adolescente se apossou de mim quatro anos atrás e pedi a todos os amigos que deixasse recados nas paredes do meu quarto. Somando ao fato de que a parede toda foi completa, tudo foi escrito com pincel mágico, atômico, ou qualquer outro nome radioativo que isso tenha. Resultado: anos depois, me enchei daquelas frases e resolvi pintar o quarto. Surpresa quando eu vejo que aquelas frases querem ficar mais na parede do que eu quero tirá-las.


Então, ainda com resquícios adolescentes, decidi fazer tudo sozinha. Eu compro a tinta, eu lixo, eu pinto. O resultado se assemelhou quando decidi me depilar sozinha (cera grudada no cabelo, pêlos em colônias separadas pelo meu corpo, muita vermelidão): nada deu certo. Convenhamos, a vontade eu tive, faltou a sabedoria da arte de pintar paredes. Nunca subestime um pintor, um pedreiro, qualquer desses sábios homens que lidam com a nossa casa.


Certo. Digamos que são esses os fatos: a tinta não deu, uma parede ficou sem ser pintada, a que estava toda pixada ainda continua (mesmo depois de quatro demãos de tinta) e aqueles cantinhos específicos ficaram, digamos assim, leigamente pintados. O Horror. O Horror. Mas precisamos de mudanças, sempre.


O que pensei que seria aquela tarde romântica pintando o quarto com meu namorado transformou-se em quatro dias pintando uma parede que se recusava a ficar boa, eu dormindo na sala, com as costas doendo e o corpo cheio de tinta. Para uma criança seria diversão na certa, pra mim, foi o inicio da irritação.


Mas não nos deixemos abater por pequenas coisas. Mudanças são boas, sempre.


Meu quarto ainda não está pronto, para quem se questiona. Meu plano de reforma não está tomando corpo, está bem longe do que eu queria. Mas quando ficar pronto poderei olhar pra ele e ver todos os erros que cometi (e que provavelmente faria errado da mesma forma de novo).


Mas uma hora a gente muda, ou quer mudar, ou tenta mudar e o que eu vejo é que independentemente da forma como isso acontece a única coisa que temos que fazer é saber lidar com essa nova mudança. Afinal, se ficar um restinho das frases escritas na parede, que mal há? Mudanças sempre vêm carregadas de lembranças.

|

27.7.04

O amor começa aos 80

Eu adoro casais de velhinhos. Não consigo olhar um sem dar uma risadinha. Sim, porque para casais de velhinhos, se dá risadinhas. É tudo no diminutivo. Estava pensando nisso hoje quando encontrei meus vizinhos do apartamento 22. Vamos chamá-los de Seu Eustáquio e dona Maria, por falha minha de não saber seus nomes reais.

Hoje de manha, Seu Eustáquio e Dona Maria estavam no elevador quando eu entrei. Ela estava ajeitando a gola do marido, que falou  pra mim, fazendo piadinha: “Tem que ajeitar o bebezinho”. E eu dei uma risadinha.

Velhinhos são engraçados, de uma boa maneira. Tanto que eu não consigo chamá-los de idosos, é tão formal! E casais de velhinhos são ao mesmo tempo fofos e hilários.

Meus avós moraram um ano na minha casa. Seu Raimundo e dona Filhinha (apelido da Dona Pautila) sempre foram o casal mais sui generis que já conheci. Meu avô foi muito apaixonado pela minha avó, com direito a crises de ciúmes e tudo mais. Os dois já beiravam os 90 anos, mas ainda assim ele não admitia a possibilidade de dormir em uma cama separada da sua querida.

Seu Raimundo era um grande dramático. Ele fazia atuações complexas, gritava e discursava sobre algo que o indignava. Enquanto isso a minha avó virava para ele e falava: “Cala a boca, velho chato”. E dali a cinco minutos, eles estavam sentados no sofá, vendo televisão de mãos dadas.

Eles tinham vários momentos de cumplicidade que eram invejáveis. Como o dia em que eu cochilei no sofá da sala, e meu vô fez cócegas com a chave no meu pé só para me acordar. Os dois se divertiram muito com a minha cara de sono.

Quando a minha avó tinha as suas crises de início da falta de lucidez, o meu avô ficava extremamente chateado. Ela queria de qualquer modo ir para a casa da mãe dela. Ele brigava com ela, numa tentativa de fazer ela parar com a doença que tanto o magoava. No auge da discussão, dona Filhinha dava o argumento final:
-         Você vai comigo, porque você é meu marido e eu te amo!
E o coração do velho derretia na hora.

Olhando os dois, eu sempre pensava: o amor começa aos 80. É uma época em que não há grandes preocupações na sua vida. Enquanto somos mais jovens, qualquer problema pode aumentar desproporcionalmente. Na terceira idade, o efeito é reverso: todas as preocupações se reduzem. Por isso, o amor da velhice é o mais meigo em sua essência. O mundo externo deixa de incomodar e interferir na vida. Sobra o que é mais doce: companheirismo, cumplicidade, carinho e paixão – sim, velhinhos são apaixonados. Depois de tantos anos, eles percebem o que realmente importa. Que foi o que Dona Maria me disse hoje, ao sair do elevador: “A gente tem que cuidar um do outro”.

|

Pequenas Mudanças (ou de grão em grão a galinha enche o papo)

Calma, esse não é um texto. É mais um notificado.
Fizemos algumas pequenas mudanças no nosso querido fanzine.

- Mudamos o nosso slogan por uma citação de Clarice Lispector, a absoluta e poderosa.

- E colocamos um sistema de comentários que funciona sem precisar de nenhuma senha. Podem gritar a vontade, forramos a caixinha do comentário com caixas de ovo.

Em breve, uma nova colaboradora. Aguardem.

Já já, faremos a revolução.

|

21.7.04

Great Expectations

Estou ouvindo bastante, nesses últimos meses, como é bom se formar. As pessoas parecem livres de um peso do qual nem sabem ao certo porque escolheram ter. Estou preste a me formar, a “tirar esse peso”, a ser jogada no mundo dos desempregados. É uma escolha, sim. Posso ainda me demorar bastante na faculdade, fazer várias outras matérias, ir alongar o final. Às vezes penso que é exatamente isso que deveria fazer, outras, acho que já foi longe demais. 
  
Procurar emprego, ganhar salário, tudo isso me parece bom, mas tão distante. É algo que desejo que aconteça mas ao mesmo tempo, não me vejo em escritório algum, em frente a computador. Estou a terminar minha faculdade sem saber em que vou trabalhar. Em tempo, faço Ciências Sociais. Acho que pertenceria mais ao alongamento da graduação, à pós, ao doutorado, dar aulas, entrar futuramente em greve por falta de pagamento... 
            

Será que é isso mesmo? Acho ótimo ter utilidade, intelectual ainda mais. Um sentimento de pertencimento à algo é necessário, de ser útil, dentro disso, também. Mas diante do andamento do final do curso me vejo sem pertencer a lugar algum, seja dentro da faculdade, da qual estou me despedindo, seja do mundo dos desempregados, no qual estou entrando.  Estou em uma adolescência da maturidade.
  

Não sou a única a ter esse medo, isso eu sei. Mas são expectativas muito grandes, desejos de algo não concreto mas que quase se pode pegar com a mão. Vontade de seguir em frente mas a passos pequenininhos, como de criança aprendendo a andar. Com a diferença de que elas não têm medo de cair, pois mal sabem o que é cair e se machucar. Andar pra frente, com tantas expectativas assim, me parece um caminho tortuoso, embora necessário, a ser feito. E sempre tem aquele empurrão de outrem com a contundente ”Vai trabalhar, vagabundo”. Ao resolver essa questão, aí sim, um peso vai sair de meus ombros.

|

19.7.04

O medo do sim.

Abro minha caixa de e-mails.
 
(Comentário nada a ver n.1: Não parece que eu abri uma caixa cheia de papéis? A gente deveria falar que abre nossa caixa virtual de bytes para ver quais são os bytes novos.)
 
Mas enfim, lá encontro uma mensagem de um colega de trabalho. É uma proposta de emprego bem interessante em uma empresa que parece legal.
E, na hora, me vem o aperto: será que eu mando o meu currículo?
Eu até poderia conseguir essa vaga. Não tenho muita experiência na área, mas tenho conhecimento suficiente para aprender rápido e fazer um bom trabalho.
Só que o medo de dar certo me trava. E eu não enviei o meu currículo.
Eu estou fazendo alguns planos para a minha vida, mas eles ainda estão nebulosos na minha cabeça. Alguns deles são um pouco ousados. E a segurança do status quo é favorável, até o momento em que eu for ter que tomar decisões mais sérias.
Se é para se jogar, porque não sair de um chão mais firme, certo?
Mas...existe hora certa para a gente se jogar?
Mandar o meu currículo significaria me arriscar num semi vôo... Que pode crescer e virar uma coisa muito boa. Ou não.
E se é para não ser, que não seja aqui, onde estou. Porque é mais fácil de sair na hora que eu quiser, para onde eu quiser de verdade.
Eu nunca vou ter muita certeza das coisas, já aceitei isso. Por isso, vou seguindo a minha intuição por hora.
Será que sou muito covarde?
Um milhão de pontos de interrogação.
 
Chegou outro e-mail. Do mesmo colega.
Ufa... é só um convite para uma liquidação.

|

16.7.04

Aprecie com moderação

Atualmente, a última tendência de “comportamento” pregada por gurus de RH e motivadores de um modo geral é a moderação. Teoricamente, levando uma vida mais moderada você encontrará o equilíbrio e a felicidade.

A moderação te levará a lugares em que poucas pessoas já estiveram. Trabalhe com moderação e afinco e seu emprego estará garantido. Leve uma vida mais regrada: faça exercícios e cuide da sua alimentação. Seja saudável. Assista televisão, leia o jornal e a revista Veja para se manter atualizado. Use seu computador de forma educativa. Aprenda, continue a estudar. Durma mais para se preservar. Cuide de você, preste atenção na sua estética. Leia um livro. Plante uma árvore. Faça trabalho voluntário. Prospere e retribua à sociedade.

Mas não se torne uma pessoa chata. Socialize-se, integre-se e divirta-se. Tenha uma conversa interessante, mas não muito pesada. Mas tenha o seu ponto de vista. Se você namora, invista no seu relacionamento. Mas não se esqueça de cultivar velhas amizades. Se você não namora, entre em alguns relacionamentos casuais para se entreter. Mas não muito! E encare a sua vida de solteiro com a alegria de um prisioneiro fora da cadeia. Se você tem filhos, não se esqueça de passar um tempo com eles. Quality time, eles dizem. Dê atenção para a sua família. Mas não se esqueça de cuidar da sua individualidade. Se quiser, fume, mas o Ministério da Saúde adverte: o cigarro pode causa infarto. Beba cerveja – mas aprecie com moderação.

Para mim, esse aviso – “Aprecie com moderação” – é uma grande voz de prisão da modernidade. Ele diz: goste de alguma coisa, mas não muito. Leve uma vida blasé. Controle-se, restrinja-se, e você será feliz.

Olhando para todas as atividades acima, vejo que a pessoa moderna só vai chegar a um lugar: o hospício. É fisicamente impossível fazer tudo isso! (ainda mais se considerarmos o número de horas que passamos trabalhando). E, honestamente, eu penso: pra quê?

A vida é feita de ciclos e atitudes. Existem momentos em que você realmente vai se dedicar mais à sua saúde. Mas a hipótese de nunca mais comer um bolo de chocolate é aterrorizante! Se formos acompanhar todas os meios e veículos de comunicação para nos mantermos atualizados, ninguém fará mais nada da vida (além de tomar remédio para dor de cabeça). E nem todos os livros publicados são bons.

Por isso eu digo: não aprecie nada com moderação! Pois aí está a graça das coisas. Se quiser cuidar de você, malhe por 3 horas seguidas. Quer ser promovido? Então, por que não fazer hora extra no trabalho? Está triste? Por favor, vá tomar um sundae. E me chame.

Escolha suas prioridades, suas paixões, e viva em paz com isso. Toda ação tem uma reação. Encare as conseqüências de suas decisões. Crie a sua versão do que é “sucesso” para te guiar. E entenda que, eventualmente, essa versão vai sofrer algumas alterações. A felicidade não é uma equação padronizada. Às vezes seu namoro é prioridade; às vezes são seus filhos; às vezes são seus amigos, sua família. Às vezes é só você.

E às vezes, não existe nada mais gratificante do que uma boa bebedeira, seguida de 2 horas de sono e olheiras no trabalho no dia seguinte.

|

Corpo são, mente sana

Vai chegando a metade do ano e a maior preocupação para algumas mulheres é o fato de que o verão está cada vez mais próximo. Enquanto a mente fica fixada no tanto de calorias que aquele foundue te acrescentou, o corpo fica cada vez mais feliz por estar trabalhando sua digestão, alimentando suas células adiposas, guardando muita energia para a hibernação que está por vir.

Sim, hibernação, porque pelo tanto que se come no inverno, não é no verão que você vai sair de casa. Aquele calor que pede roupas tão arejadas e confortáveis não combinam nem um pouco com aquela barriga caindo para fora do shorts.

Começa, então, a Síndrome do Corpo Perfeito. E a parte mais interessante disso tudo é que, embora saibamos que tudo o que comemos - com muito gosto, preciso dizer - não vai embora milagrosamente  (sim, aquelas batatas recheadas com creme de camarão que tanto te esquentaram no inverno vão estar muito bem alojadas na sua bunda), ainda cremos que, de uma maneira ou de outra, em um mês teremos o corpo da Luana Piovani.
Uma relação de culpa surge tão rápido quanto aquele calor de agosto (convenhamos, moramos no Brasil, mal há inverno em julho) e ficamos, subitamente, neuróticas. Começamos dieta, academia, leitura dinâmica de revistas especializadas (que mais servem para nos deixar ainda piores) e a bola de neve, ou de banha, começa a crescer. Quando mal vemos, estamos desnutridas, relativamente magras, morrendo de dores no corpo porque ninguém é atleta pra ficar duas horas na academia - ainda mais depois de meses parada, e devorando uma barra enorme de chocolate no final de semana.
Sou totalmente a favor de ficar saudável, linda, estonteante, torneada e tudo o que é fútil mas que nos deixa contente. Mas essa neurose acontece uma vez por ano e todos voltam à rotina normal. Então, ou vá se cuidar o ano todo, ou acostume-se com seu corpo. Se até a Luana Piovani acha que o corpo dela nem está essas coisas, nós, meras mortais, não somos tão loucas assim.
Aí vem a escolha: corpo são, mente sana, ou neuroses um vez ao ano e aquele corpão preguiçoso. Sinceramente? Eu não troco a cerveja com batata frita no final de semana por nada desse mundo. Mesmo que custe algumas horinhas na academia.

|

13.7.04

Sem título expande os horizontes

A pretensão leva qualquer um em algum lugar. O ego ajuda o caminho a ser alcançado também. A vontade de escrever para alguém ler já reside no quesito "Is anybody out there?" e saber se as nossas idéias são geniais para outros também.

Na realidade, pode ser um monte de lixo, o que não acho difícil, mas queremos algo maior, melhor e que, talvez, signifique algo para alguém.

A peridiocidade disso aqui poderia ser de acordo com a fluência de idéias mas achamos ser melhor quando as idéias estiverem bem colocadas de uma vez só. Ainda descobriremos quando e como.

Por enquanto somente apresentação. Logo mais, fruto das nossas cabeças.

Aguardem.

|

I want it all. And I want it now.

Idéias urgentes. Aqueles pensamentos brilhantes que sempre passam na nossa cabeça e viram apenas uma boa piada. Teorias, frases, manifestos, hai-kais, acrósticos, é tudo liberado. Mas a idéia e termos colunas regulares mesmo. Ou não.

Os textos serão escritos a duas mãos, quatro mãos, ou com o nariz, se sentirmos muito sono.

URGENTE: fanzine de meninas ansiosas e criativas. Divirta-se e cuidado com o degrau. Nós tomaremos cuidado com a LER, e com professoras de português ávidas por criticar nossa gramática.

Como diria Madonna: "Express yourself, don't repress yourself".

|
Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com