26.7.05

Parabéns para nós

1,2,3,4!

Happy happy birthday
From all of us to you,
We´re so happy for you that we don´t know what to do!
HEY!

You´re getting bigger every day,
So no more cake for you!
Happr Happy Birthday, from all of us to you!
HEY!



Porque bons aniversário devem ser celebrados com gritos e bobagens :)

Parabéns para nós e obrigada a quem aparece por aqui.
Continuem vindo, aqui sempre se pode gritar - nem que seja Hey!

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Aniversário

Queridos leitores,
Estamos muito felizes com o aniversário de 1 ano desse zine!
Há um ano atrás iniciamos esse emaranhado de textos, pequenas histórias de nossas vidas e ficamos muito contentes por termos vocês para dividirmos tudo isso.
Espero que tenham gostado até então e que continuem voltando.
Afinal, a sua opinião também é agora!

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O cão e a roda

É interessante notar como vamos envelhecendo. Cada qual à sua maneira. Têm aqueles que mantém uma certa vitalidade juvenil, aquela curiosidade constante e vontade do novo. Têm aqueles que vão se assentando, procurando um lugar para se aquietar e ser feliz desse jeito. E, claro, têm aqueles que ainda não entenderam que o tempo passa rápido demais e que se algo não for decidido, resolvido ou iniciado, estes podem pular da fase jovem e despreocupada, para aquela em que se está assentado e não se vê mais lugar pra ir.

Estar perdido, gostaria eu, deveria ser uma característica dos adolescentes que mal sabem para onde ir. Mas que também pouco se importam. E eles sempre acreditam que as coisas vão se acertar, invariavelmente. Realmente, acontece.; mas muitas vezes as coisas se acertam da forma em que você não está feliz mas está estável.

Mudanças nunca geram estabilidade em seu início. Esse caos inicial é intrínseco à mudança, é necessário para que se possa valorizar ou questionar o passo dado. E se questionar se o que fora feito é realmente a opção correta. Existirá algum momento em que mudanças não serão necessárias? Existirá algum momento em que o medo não tomará conta da gente de forma tão abrupta - mas também certa?

Estava a conversar com um amigo meu e ele me fez a melhor analogia desses tempos incertos e cheios de perguntas: o cão e roda, batizei assim. Sabe o cachorro? Ele fica anos e anos correndo atrás da roda. Da roda de bicicleta, da roda do carro, sem saber porquê. A roda está lá, rodando e está o cachorro atrás dela como se não houvesse amanhã. O dia em que a roda pára, o cachorro pára também. E se fosse do cachorro se perguntar alguma coisa, estaria lá ele ‘E agora? O que eu faço?’.

Temos então que ir atrás do osso?
Procurar outra roda?
Ou na analogia mais brega que um ser humano pode pensar: correr atrás do que se quer?
E alguém sabe o que quer?
Queria eu achar uma roda pra ir atrás mas que quando esta parasse o único pensamento que passaria pela minha cabeça seria “Parou? Vou fazer funcionar de novo. Ou comprar uma bicicleta nova”.

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21.7.05

A incomensurável importância de uma vaga de estacionamento

Hoje eu descobri uma das coisas mais valorizadas do mundo moderno: uma vaga em um estacionamento de shopping. Essa área de 3 x 4 metros, delimitada por 2 ou 3 faixas amarelas, é capaz de causar todo tipo de comoção, prejuízo e fúria.

Darei uma explicação do ocorrido: estava com meus pais dentro do estacionamento do shopping procurando um lugar. Na nossa frente, um carro estava parado, esperando um outro desocupar uma vaga para ele poder estacionar. Minha mãe chegou o carro um pouco para a esquerda, mas não pôde passar pois havia um carro na contramão obstruindo a via. Atrás de nós, outro veículo parado. Não havia muito espaço para manobras, mas mesmo assim ela tentou alguma coisa. Enquanto isso, o motorista da frente começa a falar algo para a mulher que estava na contramão.

Em pouco tempo, desce um homem desse carro (o da contramão) e começa a gritar desaforos para o outro motorista. Este permanece calmo, mas também responde. Em seguida, ele também desce do carro e os dois começam a discutir. O primeiro senhor, mais irritado, empurra o segundo, que ainda não revida. Mas a discussão continua acalorada. Ironicamente, ninguém menciona o estacionamento ou os veículos. A mulher na contramão, ainda dentro do carro, também contribui verbalmente para o embate.

Logo o previsível se torna fato, e os dois homens começam com uma briga física. Desesperada, comecei a gritar para a minha mãe fechar a janela. O que ela fez numa hora ótima, senão também receberia uma cotovelada. Na minha cabeça e no meu coração só veio medo: do meu pai descer no carro, de alguém aparecer com uma arma. Mas permanecemos todos calmos, mesmo com a briga se estendendo até o nosso carro e ao lado dele. Rapidamente vieram pessoas para socorrer e os seguranças do shopping finalmente chegaram. Os dois homens tiveram que ser separados a uma boa distância. A mulher da contramão, que havia descido do carro, começou a gritar em alto volume com o marido.

Quando perdemos um dos indivíduos de vista, ele deu a volta por outro lado e apareceu de novo na frente dos carros, gritando que queria ter uma arma para atirar no outro. O outro, do lado da minha janela, abria o paletó e falava: “Atira!”. A turma do deixa disso estava mais forte e acalmou a situação. Abaixei a minha janela e conversei com um dos motoristas. “Pára com isso. Você está num estacionamento de shopping. Não precisa disso.” Ele respondeu calmamente pra mim, mas não sei o quanto adiantou falar algo. Do outro lado, um educado rapaz avisou minha mãe de que a briga havia amassado o nosso carro. Finalmente, a situação foi resolvida e a briga dispersada. Os carros foram saindo da nossa frente e conseguimos estacionar.

No caminho para o cinema, fui pensando no absurdo que acabei de presenciar. Porque não estamos falando de violência de fundo social, causada pela imensa desigualdade do país. Quem brigou, na minha frente, por causa da passagem no estacionamento, foram dois homens de idade entre 30 e 40 anos. Um certamente era casado, o outro acredito que também fosse. Os dois carros eram do tipo space wagon – o que estava parado na nossa frente era importado. Ou seja, cada um vale no mínimo 30 mil reais.

Isso tudo significa que eles têm um trabalho digno, capaz de garantir não só segurança e necessidades básicas, mas certo luxo e conforto que a maior parte da nossa população jamais conseguirá. Significa que eles lidam com pessoas iguais a eles no trabalho. Eles poderiam ser seus vizinhos, suas crianças podem muito bem estudar no mesmo colégio particular. Se algum deles não cursou faculdade, certamente a realidade será diferente para seus filhos. Os dois compram a mesma marca de alarme para proteger a casa da violência.

Então por que duas pessoas supostamente dignas e respeitáveis decidiram se ofender e se estapear as 7:20 da noite de uma quarta-feira em um shopping center?

A resposta está na falta de civilidade em que vivemos. Está num problema de educação que vai além de uma reforma ministerial. A resposta está no fato de que vivemos em um país que ainda está aprendendo o que é ser cidadão.

Qualquer anti-nacionalista (se é que esse termo existe), ao se deparar com esse quadro, diria: “Isso nunca ia acontecer num país civilizado.” Com algumas exceções, temos que concordar com essa afirmação. Contudo, transformemos esse evento desagradável em uma experiência de aprendizado experimental. Por quê? Porque é assim que os países desenvolvidos chegaram ao atual nível de civilização. Lembrem-se: não tivemos grandes guerras e revoluções em nosso território. O Brasil nasceu sendo explorado e aprendendo a explorar. E só um ciclo de atitude positiva, em contra corrente com o que vem acontecendo, pode reverter essa situação.

Eu não acredito em justificativas de defesa da honra e resposta de provocação. Essa questão de “defesa da honra” é um moralismo de século 19, datado e arcaico. Além do mais, desde quando a definição da sua existência é marcada por uma vaga de estacionamento? Quanto a respostas de provocação, aprendemos com todas as professoras do jardim de infância a lidar com isso. Essas são desculpas de um conservadorismo machista que ainda está intrínseco no nosso pensamento. É hora de acordar: os homens não têm o direito a abusar de sua liberdade individual em função da proteção da sua honra e a de sua família. E as mulheres que cobram ou instigam seus companheiros para que tomem tal atitude estão perpetuando esse barbarismo.

Mas o machismo não é o grande causador de tal atitude. O que houve é uma grande necessidade de marcar e defender seu território. Percebi também que o importante ali era vencer a discussão, seja com o argumento mais articulado ou com o tapa mais forte. Olhando para isso, a situação recebe uma nova luz. Somos um povo abusado. Trancamo-nos em casa por medo da violência. Vemos notícias de escândalos de corrupção e crise econômica diariamente. Sabemos que a nossa mídia é manipulada, que o nosso governo e problemático.

Mas não fomos educados a lidar com isso. O nosso principal problema está na nossa falta de educação: ninguém nunca nos ensinou a ser cidadãos. Não sabemos usar uma voz correta e civilizada para gritar nossas indignações. Se os problemas sociais de hoje nos chocam? Claro que sim. Porém, só o que sabemos ficar trancados em casa, com medo. Nosso sistema de impostos é abusivo, mas nós aprendemos a sonegar e a dar um jeitinho. Somos um povo adaptável demais, tolerante demais. Agora, a sociedade está começando a responder a essa série de abusos de uma maneira nada educada: o jeito é controlar o pequeno pedaço de mundo que pudermos. Que seja uma vaga de estacionamento: você está na contramão e isso, eu não vou mais tolerar. Você foi mal educado e é aí que fica o meu limite. Eu estou me defendendo, finalmente.

Eu fico pensando como seria possível gerar essa consciência em uma população. De que jeito se mostra que a violência é o reflexo de uma sociedade assustada e sem consciência do tamanho do seu medo, do que realmente a assusta e de como dizer isso e ser ouvida. Qual a maneira de identificarmos esses sentimentos em nós e sabermos, a partir disso, lidar com eles de forma civilizada?

Como se ensina cidadania?

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