22.1.07

Brasil. Ame ou ao menos respeite-o

Estava a ler o Folhateen, fascículo da Folha de São Paulo de hoje (22/01/2007) por puro hábito de ler o jornal todo. Quando mais nova, era o primeiro caderno a ser aberto (se não o único); lembro-me de quando mudou de formato, lia de cabo a rabo. Hoje em dia dou uma olhada, passo rapidamente pela desprezível coluna do Álvaro Pereira Júnior e sigo para o próximo caderno.

Lá estava a matéria de como os adolescentes odeiam a música nacional. Às vezes não somente a música como a cultura e tudo o mais que possa estar interligado ao país. Tinha, naturalmente, a opinião oposta e supostamente embasada de um sociólogo.

Fiquei irritada. Não somente com os adolescentes, mas mais pelo fato de que conheço pessoas adultas que não respeitam a música nacional. Fiquemos na questão musical porque se formos analisar a cultura perderei minha linha e passarei a xingar infinitamente.

Música é algo essencial para quem vós fala e creio que é uma informação que deva sempre ser acrescentada, modificada, variada, constantemente. Quando adolescente não gostava de nada nacional de MPB, definitivamente. Mas flertava com a poesia do Chico Buarque. Adorava minhas bandas americanas e com elas cresci e expandi meu gosto e várias delas ainda ouço. Mas a gente cresce e precisa aprender a conhecer outras coisas, a saber enxergar o que é bom, mesmo não sendo o tipo de música que mais se adora.

É preciso saber que samba é bom e reflete uma cultura incrível. Não precisa gostar.

É preciso saber que Chico Buarque escreve bem demais e que suas músicas representam muito de história e sim, são tocantes enquanto melodia.

É preciso saber que esse país produz muita coisa decente diferente das pelas quais algumas pessoas o associam.

Não creio que seja necessário gostar, mas saber sua importância; não é preciso ler profundamente Marx para saber de sua importância na análise histórica. Não é preciso ouvir constantemente Bach para saber o quão grande era. Não é preciso ler todos os heterônimos de Pessoa para saber que ele era um gênio.

Mas é preciso que se saiba que esse país produz muita coisa boa. Respeitável. Embasada. Que possa se sentir orgulhoso disso.

Não é a feijoada, o sambão, o futebol. Convenhamos, tem cultura quem quer. E, para mim, quem nega o que é bom porque acha que é ridículo, sem ao menos se questionar ou conhecer, é ignorante.

E ignorante não precisa de cultura. Precisa ser ignorado. Porque aprender o que é bom nunca tem tempo. Negar o que é bom por esporte, que vá gostar do acha que conhece.

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18.1.07

Da organização ou da percepção do velho

Ando com muito tempo livre. E como se fosse um ritual que sempre toma conta de mim seja por loucura ou por renovação, resolvi arrumar o quarto.

Não somente arrumar, mas organizar, limpar e me livrar de tudo aquilo que acho que não preciso mais. Fiquei impressionada comigo mesma. Percebi que me apego à muitas coisas e ao me deparar com todas elas me perdia em pensamentos questionando o porque da presença daquele objeto ali. Ainda.

Tanto que demorei quatro dias para separar tudo o que não queria mais junto à mim, juntando pó, ocupando espaço, ocupando pedaços de mim que eu percebi precisarem respirar.

Primeiramente limpei o campo de batalha: rearranjei cama, estante, retirei um sofá que só servia de cesto de roupa suja e tirei tudo o que não tinha função ou tinha a função secundária de juntar mais bagunça.

Comecei então com as roupas. Me despedi delas como lembranças, vestígios de dias mais magros, mais novos, mais sem bom gosto. Separei aquela compra impulsiva que sempre achei ser imune e coloquei em uma sacola. Coloquei muita coisa nesta sacola. Não havia motivo para estarem lá e pilhas se formaram. Chamei uma amiga que se achou em um brechó. Todo o resto, que não foi do gosto dela, e que já não é mais do meu, será doado.

Fui depois para a papelada. Um montante impressionante de papel desnecessário. E olhei um a um, tentando não me sabotar jogando algum telefone importante fora. Ou alguma senha. Faço muito isso. Juntei um saco de sanito preto de papel. E de revistas que não me dizem mais muita coisa (as que dizem estão guardadas, todas juntinhas, separadas por tópicos). E uma caixa enorme de livros didáticos que ganhei pra estudar pro vestibular – os quais não usei. Serão reciclados ou doados. E menos ácaro para mim, menos um árvore cortada, mais uma pessoa que entre numa faculdade. Vai saber.

Adentrei, então, no que eu sabia que perderia mais tempo. Todos os cds. Agora com mp3 player não se dá mais tanto valor aos cds, mas minha coleção está lá, com cds riscados de tanto serem ouvidos e cds novinhos, depois da percepção que eram colecionáveis e importantes. Me lembrei de quando comprei a maioria deles, do ano não em que não comprei nenhum e só ganhei, do primeiro, do último, do que eu morro de vergonha, do qual não sei realmente o que está fazendo lá.

E cada vez que eu arrumo os cds os coloco em um ordem que acho mais condizente com o que estou sentindo no momento; já foram arrumados por ordem alfabética, por gênero, por ordem de aquisição e agora os coloquei na ordem dos que gosto mais. O que, naturalmente, não irá durar muito tempo e qualquer mudança de humor me fará procurar por mais tempo por aquele cd;

Por último respirei fundo e resolvi lidar com as coisas de mulher: maquiagem, creme, creme, mais creme, mais maquiagem, perfume. Joguei fora 75% de tudo o que estava ali, seja porque estava velho, seja porque estava quase no finalzinho, seja porque estava vencido. E deixei da melhor forma possível – o que sei que não durará uma semana.

Olhei o quarto e ele respirava assim como eu. E muito melhor. A desculpa foi uma rinite alérgica crítica, o motivo foi renovação. É interessante ver como nossa visão muda perante um objeto, como o valor que damos a ele varia de acordo com a época da vida, como algo que um dia foi tão importante agora é questionado sobre sua importância. Não tem mais valor, nunca teve ou teve o valor necessário quando necessário?

A pilha de coisas que saiu do meu quarto parecia tão morta, tão sem nexo que eu realmente me perguntava qual a função de todas aquelas coisas ali. Me ajudaram a crescer?

Foi quando vi no cantinho do quarto, bem ao lado de novo local da cama, uma cesta cheia de bichinhos de pelúcia. A função do bichinho de pelúcia é do momento, realmente, porque não há o que se fazer com ele depois. E por quê, então, tinham coelhos com 10 anos de idade ali?

Separei uma grande saco plástico, comecei a espirrar só de chegar perto e fui colocando um ao lado do outro na cama. A memória correu novamente, foi bem longe, voltou, falhou também; mas separei a grande maioria deles e os juntei no saco. Ficaram alguns. Não consegui desapegar.

E não eram bichinhos que ganhei de presente quando criança.

Mas ainda eram memórias fortes.

Quem sabe na próxima organização aquele coração, a vaca e o gato azul se vão. Por enquanto deixe que me façam espirrar. A rinite era só desculpa, mesmo.

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