Desde de que tirei meu título de eleitor adoro votar. Adoro me deslocar para uma escola em um domingo chuvoso e apertar alguns botõeszinhos e marcar o que eu acho e acredito. Sinto-me cidadã praticante, exercendo um direito que até pouco tempo atrás mulher nenhuma tinha e há muito mais tempo, quase ninguém que não tivesse muito dinheiro tinha. Mas venho notado um comportamento estranho das pessoas que me cercam e aquelas que estão mais longe também: ninguém se interessa por eleição. Ninguém se interessa se vai votar num prefeito péssimo, um vereador do qual não sabe qual plataforma tem. Aliás, parece que ultimamente ninguém se interessa por nada que está relacionado com política.
Eu ouço freqüentemente que não existem muitos motivos para votar, que tudo continuará na mesma e que político é tudo corrupto. O mais interessante é que às vezes ouço isso da boca de gente que mal sabe quem concorreu com o atual presidente do país na última eleição. Ou tenho que gerar uma audição seletiva para não escutar uma sugestão de se candidatar a vereador somente para `Ganhar uma graninha`. Sendo que quem proferiu tão políticas palavras afirma que vereador não serve para nada. Poxa, essa pessoa não deveria ser tão dura consigo mesma, afinal, ela acabou de achar uma função, não é mesmo? Um emprego, nessa crise que está hoje, que seja de vereador. Não faz nada mesmo, não é?
E seguindo com os péssimos exemplos, existem também aquelas pessoas que gritam e esperneiam por terem que ir votar no domingo. Mas que problema não? Ter que pensar em dois dígitos e depois em cinco, esperar em uma fila e depois voltar para casa. Um verdadeiro martírio, realmente.
A minha revolta consiste somente em como as pessoas são paradoxais. Elas odeiam votar, participar enquanto cidadãs que são, mas ao mesmo tempo o que mais pensam é em como vão arranjar um emprego melhor, em como a cidade anda tão violenta que mal se pode sair na calçada e em quantos buracos existem na rua para estragar seus carros. Talvez para eles seria melhor que tudo voltasse a época feudal onde bastava dar um gordo imposto que o solícito rei abriria uma estrada péssima para andar as carroças. Naquela época precisava de tão pouco que era fácil satisfazer. Hoje, todos querem tanto, mas não querem participar, aliás, pagando os impostos já acham que fazem demais.
É como já disse antes: é mais fácil reclamar que fazer alguma coisa. Acho que se quer ficar a discutir política, que conheça ou que participe, porque essa ladainha de que político não presta uma criança consegue reproduzir com o mesmo nível de argumentação. Espero que nesse segundo turno eu ouça menos pessoas reclamarem por ter de ir votar e talvez comecem a perceber que isso, realmente, serve para alguma coisa. Nem que seja para os colocarem na posição de cidadãos, coisa tal que poucos realizam o que é.
Mais tarde, achei esse poema que achei muito apropriado. Para não colocar como outro texto, o adiciono aqui.
O Analfabeto Político
por Bertold Brecht
O pior analfabeto é o analfabeto político.
Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão,
do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio
dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo
que odeia a política. Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a
prostituta,
o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos que é o político
vigarista,
pilantra, o corrupto e lacaio dos exploradores do povo