26.10.04

A história sem fim

Final de ano é sempre a mesma coisa. A correria começa, e embora você esteja a menos de 2 meses do natal, os dias parecem longos. Você gostaria que o dia tivesse 36 horas, mas você precisa de forças para se concentrar por mais de 4.

Existem trabalhos para entregar, inscrições para serem feitas, documentos vencidos, prazos irrevogáveis, impressões, revisões, limites...ah! Que sufoco! Não é a toa que todo mundo fala que o ano passa rápido: só esse final dele leva uns 6 meses a mais do que deveria.

Existe tanta coisa que quero fazer...estou no meio de um livro excelente, quero ir mais à academia, ir a cinema, alugar um filme que seja. E quero escrever para o meu fanzine!! Tenho várias idéias na cabeça. Quero também mudar o layout, o formado, tentar programar, tantas coisas... Mas eu estou presa nessa rotina horrível, e tenho mais um mês de trabalhos forçados.

Vivo nessa história sem fim, atolada em papéis desnecessários. Mas vou tentar me libertar por alguns segundos, quem sabe. Tenho um show para ir que eu ainda não sei se vou (ei, você vai comigo?), quero ir em uma peça de teatro e num churrasco. Vamos ver se consigo. Tentarei, em breve, com todas as minhas forças, escrever algo profundo e prolixo para colocar aqui.
E eu odeio climatizadores.

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12.10.04

cidadão com c minúsculo

Desde de que tirei meu título de eleitor adoro votar. Adoro me deslocar para uma escola em um domingo chuvoso e apertar alguns botõeszinhos e marcar o que eu acho e acredito. Sinto-me cidadã praticante, exercendo um direito que até pouco tempo atrás mulher nenhuma tinha e há muito mais tempo, quase ninguém que não tivesse muito dinheiro tinha. Mas venho notado um comportamento estranho das pessoas que me cercam e aquelas que estão mais longe também: ninguém se interessa por eleição. Ninguém se interessa se vai votar num prefeito péssimo, um vereador do qual não sabe qual plataforma tem. Aliás, parece que ultimamente ninguém se interessa por nada que está relacionado com política.

Eu ouço freqüentemente que não existem muitos motivos para votar, que tudo continuará na mesma e que político é tudo corrupto. O mais interessante é que às vezes ouço isso da boca de gente que mal sabe quem concorreu com o atual presidente do país na última eleição. Ou tenho que gerar uma audição seletiva para não escutar uma sugestão de se candidatar a vereador somente para `Ganhar uma graninha`. Sendo que quem proferiu tão políticas palavras afirma que vereador não serve para nada. Poxa, essa pessoa não deveria ser tão dura consigo mesma, afinal, ela acabou de achar uma função, não é mesmo? Um emprego, nessa crise que está hoje, que seja de vereador. Não faz nada mesmo, não é?

E seguindo com os péssimos exemplos, existem também aquelas pessoas que gritam e esperneiam por terem que ir votar no domingo. Mas que problema não? Ter que pensar em dois dígitos e depois em cinco, esperar em uma fila e depois voltar para casa. Um verdadeiro martírio, realmente.

A minha revolta consiste somente em como as pessoas são paradoxais. Elas odeiam votar, participar enquanto cidadãs que são, mas ao mesmo tempo o que mais pensam é em como vão arranjar um emprego melhor, em como a cidade anda tão violenta que mal se pode sair na calçada e em quantos buracos existem na rua para estragar seus carros. Talvez para eles seria melhor que tudo voltasse a época feudal onde bastava dar um gordo imposto que o solícito rei abriria uma estrada péssima para andar as carroças. Naquela época precisava de tão pouco que era fácil satisfazer. Hoje, todos querem tanto, mas não querem participar, aliás, pagando os impostos já acham que fazem demais.

É como já disse antes: é mais fácil reclamar que fazer alguma coisa. Acho que se quer ficar a discutir política, que conheça ou que participe, porque essa ladainha de que político não presta uma criança consegue reproduzir com o mesmo nível de argumentação. Espero que nesse segundo turno eu ouça menos pessoas reclamarem por ter de ir votar e talvez comecem a perceber que isso, realmente, serve para alguma coisa. Nem que seja para os colocarem na posição de cidadãos, coisa tal que poucos realizam o que é.

Mais tarde, achei esse poema que achei muito apropriado. Para não colocar como outro texto, o adiciono aqui.

O Analfabeto Político
por Bertold Brecht

O pior analfabeto é o analfabeto político.
Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão,
do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio
dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo
que odeia a política. Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a
prostituta,
o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos que é o político
vigarista,
pilantra, o corrupto e lacaio dos exploradores do povo

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A preguiça do nada

De repente, a vida chega em um momento em que não tem muita coisa acontecendo. O nada se instaura, e você começa a pensar sobre o sentido e real importância de algumas coisas. Nada anda pra frente. O que você esperava ainda não chegou, o que te frustrava ainda não mudou e o que te irrita ainda está aí, do seu lado. E, por hora, não há o que ser feito.

É uma época de tédio profundo. Talvez até regado por um princípio de depressão, coisa leve. A vida está parada, e mais chata que ela, talvez só você. As coisas não realmente te importam muito: dá uma preguiça danada. E honestamente, e daí? Fazer algo? Fazer nada. Você faz regime por preguiça de comer, exercício por preguiça de dirigir, assiste televisão por preguiça de dormir. Dorme por preguiça de viver, Suas ações são motivadas por uma preguiça maior. Ela é um conforto único. Uma vez que você não vá movimentar a sua vida parada... Bom, se é para ter preguiça, que seja direito.

Ficar longe das pessoas é mais fácil nessa época. Afinal, o convívio requer um certo trabalho, e não se sabe mais por quem você se dispõe a fazer qualquer ação. Afinal, você sente mais comoção pela morte de um famoso que você admirava do que pela distância de um conhecido da vida real. Você se sente meio abandonado, mas não tem certeza se não é paranóia. Será que você se afastou ou foi afastado? Será que você se tornou uma pessoa mais chata, ou só não interage tão bem com quem está em volta de você? Será que isso te magoa? Ou só machuca o teu ego? Ainda bem que existem amigos com alma boa que nos agüentam nesse período de mesmice.

É uma inércia muito louca que te leva a esses extremos. Sempre surgem questionamentos quanto a sua origem. Seria apenas um dia de mal humor? Seria a distância de um final de semana? Seria falta de perspectivas? Ou de sexo? Para as mulheres, hormônios? Mudança da conjunção astral?

Ainda não foi descoberta a causa. Não existem muitas pesquisas nessa área: quem vive esse momento tem muita preguiça para essas divagações científicas. Deve haver diversas razões, que se combinam nesse momento de gargalo. E até um empurrão chegar, agüentamos uma temporada mais arredia, ausente, distanciada. Mais para frente haverá sentimentos, surpresas e desafios em seu caminho. Mas, por agora...Nada.


PS: Espero que esse texto seja uma justificativa razoável para os nossos atrasos de postagem. Minhas desculpas em nome do Urgente. Acredito que, em breve, a Izz também se manifestará com um de seus excelentes textos, para nosso deleite.

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2.10.04

A desconstrução do mundo

Acho que sou a pessoa que mais espera o reveillón 2005, ou pelo menos o mês de dezembro. Esse será um final de ano com muitas finalizações, com o perdão da redundância. Espero descontruir a minha versão de mundo atual até dezembro e então, como um bom clichê, começar o ano novo com o pé direito. (Ou pelo menos a mala na mão direita. Ou o novo contrato de emprego. Ou até os dois – quem sabe?)

Quando se planeja mudar as coisas, a sua visão de mundo fica completamente diferente. Embora seja mais fácil encontrar uma motivação mínima para se continuar vivendo num mundo que se desconstrói – falta pouco agora – em alguns momentos você se torna o beduíno se arrastando no deserto, prestes a desistir da água. Não dá para agüentar mais um segundo disso, por que as coisas não mudam logo? São momentos em que você precisa encontrar a sua reserva escondida de automotivação. Porque parece que já acabou, mas não. Ainda não.

Por outro lado, o velho mundo se torna mais leve. As coisas não te comovem mais como antigamente. Quando as pessoas discutem possibilidades e melhorias, isso não faz nem cosquinha em você. Quem se importa? Eu não. Suas expectativas são levadas a um nível muito baixo. Na verdade, você só espera sair logo. Então um grande evento que faz as pessoas se reunirem e imaginarem coisas será para você, no máximo, uma festa de despedida.

Se a falta de expectativas te faz comemorar menos as coisas do mundo velho, ela faz também com que você deixe de cobrá-lo. Quando esse mundo era seu, você poderia batalhar por algo novo, uma situação melhor, com toda a sua garra – e ficar genuinamente indignado se essa luta fosse em vão. Agora, todo esforço necessário é o mínimo. Você fica bem mais feliz: quem não cria expectativas, não se frustra. As coisas não vão melhorar agora? Tudo bem, isso não muda muito a minha vida. Me deixe quieta aqui que eu estou na boa. Parece que esse mundo agora funciona melhor – se tudo ficar como está, não tem problema. É fantástico, você fica verdadeiramente mais satisfeito com a mesma coisa que tinha antes.

E quando se tem algo realmente chato para fazer, aquilo que sempre te incomodou do fundo da sua alma, você pára a sua raiva em um segundo com o pensamento “é a última vez que eu vou fazer isso (pelo menos aqui)”. As tarefas mais chatas parecem brincadeira, e você passa a prestar atenção até nas coisas que menos gosta de realizar – com esse novo olhar, você percebe que é importante reparar os detalhes. Afinal, você não sabe se vai utilizar algo aprendido enquanto faz aquele trabalhinho mala. Você olha as pessoas dessa maneira também. Identifica sentimentos novos em você. Pensa nos mais diferentes aspectos. No geral, as coisas passam a fazer um novo sentido.

A grande soma desses sentimentos novos é um tanto inusitada: a saudade. Você quer desconstruir o seu mundo e mudar as coisas, e não se arrepende disso. Mas, de repente, você passa a perceber que, assim como esse mundo velho foi seu, você também foi parte dele. Houve bons momentos, apesar dos pesares. Você vai sentir falta de suas peculiaridades. No final, a desconstrução do seu mundo te leva a analisar as coisas de diferentes ângulos – quem vê as coisas de fora tem uma visão mais ampla. Mesmo querendo ir embora, é feita justiça: você faz uma merecida reverência em agradecimento a algo que contribuiu para que você se tornasse a pessoa que é hoje.




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1.10.04

A insustentável ignorância do Não

Quando eu era piveta e achava que entendia tudo do mundo e de como as coisas funcionavam, gostava de ficar me afirmando através dos meus exclusivos gostos musicais. Na realidade, eu só gostava de músicas que as outras pessoas não gostavam e assim sendo, nem faziam questão de conhecer. Mas eu era a mais antenada, descolada, dentro do mundo da música. Ao me vincular tão fortemente a uma imagem que eu mesma havida criado, deixei de apreciar qualquer outro tipo de música que não aquele que eu pregava. E também criticava tudo aquilo que não seguia minha religião musical. Quanta ignorância!

Agora guria crescida que sou e que sei que não preciso mais me afirmar através da música (ou qualquer outra coisa) notei como é fácil dizer não. É muito fácil afirmar que algo que você não conhece é um lixo, que você não gosta, que você não quer nem saber. É tão pateticamente fácil você dizer não a alguma coisa que não conhece que só o fato de dizer não acaba por traduzir a pessoa como paradigma da estupidez.

Essa ignorância do Não se aplica a tudo. Desde não querer experimentar uma comida nova, até discordar de alguma teoria somente porque lhe parece errada (no sentido de não possuir argumentação alguma); ou de olhar uma pessoa pela forma como ela está vestida e já estampar um NÂO, um “Odeio essa pessoa”. É tão ridiculamente fácil, é tão estupidamente simples que simplesmente não se aplica.

A dificuldade em elaborar uma opinião é grande, ainda mais embasada, livre de pré-conceitos; é necessário pesquisa, vontade de saber e aí que reside a graça toda de ter uma opinião. De saber o que achar e não achar por esporte, sucumbindo à facilidade do geral, do lato sensu. É tão simples dizer não. Não gostar, não explicar, simplesmente não. O maior problema daqueles que são fervorosos da ignorância do Não é o “Por quê?”. E assim, de repente, ouvimos outro não, mas bem engasgado. Nesse momento eu sorrio e digo até.

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